Espessantes

DEFINIÇÃO DE ESPESSANTES

Desde que a nova legislação para aditivos entrou em vigor em 1997, classificando os aditivos de acordo com sua função, vem ocorrendo confusões no que se refere às definições de espessante, geleificante, estabilizante e emulsificante. Isso porque muitos hidrocolóides podem desempenhar cada uma dessas funções dependendo de sua aplicação. Tentando esclarecer essas dúvidas são apresentadas algumas definições:


Espessante: Segundo a legislação brasileira, espessante é a substância que aumenta a viscosidade de um alimento. Esse aditivo melhora a textura e a consistência dos alimentos processados.


Geleificante: Substância que confere textura através da formação de um gel. O gel é um sistema bifásico constituído por uma rede macromolecular tridimensional sólida que retêm entre suas malhas uma fase líquida.
Estabilizante: Segundo a legislação brasileira, estabilizante é a substância que torna possível a manutenção de uma dispersão uniforme de duas ou mais substâncias imiscíveis em um alimento. Pode-se dizer que o estabilizante favorece e mantém as características físicas das emulsões e suspensões.           
Emulsificantes: Substância que torna possível a formação ou manutenção de uma mistura uniforme de duas ou mais fazes imiscíveis no alimento.
Espessante, portanto, é a substância capaz de aumentar, nos alimentos, a viscosidade de soluções, de emulsões e de suspensões. São substâncias químicas que aumentam a consistência dos alimentos. São hidrossolúveis e hidrofílicas, usadas para dispersar, estabilizar ou evitar a sedimentação de substâncias em suspensão. Emprega-se em tecnologia de alimentos e bebidas como agentes estabilizadores de sistemas dispersos como suspensões (sólido-líquido), emulsões (líquido-líquido) ou espumas (gás-líquido).(HEBBEL)




PRINCIPAIS REPRESENTANTES

Goma carragena


Origem

- é obtida da extração de diferentes espécies de algas marinhas vermelhas.     

Estrutura

- consistem em polímeros sulfatados constituídos de unidades de galactose e anidrogalactose           

Características

- a k-carregena gelifica na presença do íon potássio, a i-carragena na presença do íon cálcio gelificam, já a l-carragena não gelifica. Assim as duas primeiras são usadas como agente gelificante e a outra utilizada como espessante;
- a viscosidade depende da concentração, temperatura, presença de outros sólidos, do tipo de carragena e de seu peso molecular;
- formam soluções altamente viscosas, devido à sua estrutura macromolecular não ramificada, linear e natureza polieletrolítica;
- autodegradam-se quando em pH abaixo de 4 ou em aquecimento prolongado;
- a k-carregena e a i-carragena são solúveis em água quente, enquanto a l-carragena é solúvel em água fria;
- como resultado dos grupos sulfatos, as carragenas têm forte caráter aniônico e reagem com polieletrólitos catiônicos, em particular as proteínas.

Aplicações

- iogurte, sorvete, bebidas nutricionais, petit suisse, geléias de baixa caloria, doce de leite, creme de leite, queijos, etc.
A geléia é muito utilizada
como espessante
Yogurt "Corpus"
                      
A mais específica propriedade da carragena como um hidrocolóide é seu alto grau de reatividade com certas proteínas e sua reatividade com proteína de leite em particular, que é a base para um grande número de aplicações de carragena em alimentos.
Essa reação entre caseína e carragena, chamada “reatividade do leite”, torna possível a suspensão de chocolate e outras partículas em leite, com o uso de pequenas quantidades de carragena (0,025%), formando um delicado gel, mas somente aumentando ligeiramente a viscosidade do leite.

Gelatina
Gelatina colorida, frequentemente
utilizada como espessante
É frequentemente usada como um agente espessante. Suas moléculas grandes são filiformes e são hidrofílicas. As moléculas de gelatina, devido à sua estrutura, dão firmeza às substâncias. O tipo de gelatina selecionado deve ser um que não somente de bons géis, mas também que tenha um mínimo de "flavor" indesejável. Os tipos de gelatina preferidos são os de porcos e de bezerro.

Goma xantana


Origem

- é produzida pelo cultivo de Xanthomonas campestris.

Estrutura

- tem estrutura celulósica com ramos de triglicerídeos ligados a unidades de glicose na cadeia principal.

Características

- não é um agente de geleificação, mas pode formar gel elástico e termorreversível quando combinada com goma locuste, e pode atingir altas viscosidades quando combinada com goma guar;
- é completamente solúvel em água gelada ou quente, produz altas viscosidades a baixas concentrações e apresenta excelente estabilidade ao calor e variações de pH;
- a viscosidade permanece inalterada variando a temperatura de 0 a 100 ºC e em valores de pH entre 1 e 13;
- a presença de cadeias laterais e o caráter iônico nas moléculas de xantana aumentam a sua hidratação, mas devido às interações com íons cálcio, um longo tempo de agitação é necessário para dissolver em meios lácteos. 

Aplicações

- pó para refresco, iogurte, petit suisse, suco de frutas, néctares de frutas, creme de leite, cereais, entre outros.
Yogurt "Batavinho Maxi"
Pó para refresco "Tang"

A goma xantana é definida como um hidrocolóide usado em alimentos e entre os demais é o mais testado, e os experimentos demostraram a inocuidade desta goma em concentrações permitidas.
            A goma xantana, também apresenta excelente estabilidade em valores do pH extremos, na faixa de 2 a 11, e altas temperaturas de 100 a 120º C além de poder ser dissolvida ou a quente ou a frio. .É facilmente solúvel em água, produzindo alta viscosidade. Não é solúvel na maioria dos solventes orgânicos.

Amidos Modificados
           
Apesar dos amidos serem utilizados como espessantes, eles são considerados como alimentos. O amido constitui uma importante reserva de nutrição de todos as plantas superiores (sementes, tubérculos, rizomas e bulbos). São polissacarídeos, ou seja, estão formados pela combinação de centenas de monossacarídeos, com muitas unidades repetitivas de glicose.
Pelo fato de ser facilmente hidrolisado e digerido é um dos elementos mais importantes da alimentação humana. Trata-se da mais importante fonte de carboidratos.
Sua estrutura é constituída por dois polímeros: a amilose e amilopectina. Além disso, a amilose forma géis firmes após o resfriamento e tem grande tendência a precipitar, enquanto que a amilopectina apresenta geleificação lenta ou inexistente, precipitação lenta, e textura gomosa e coesiva.
As fontes mais comuns de amido são cereais e raízes, como o arroz, milho, trigo, batata e mandioca. O amido não é doce, não é solúvel em água fria, e representa de 70 à 80% das calorias ingeridas na dieta humana. Eles apresentam baixo custo, grande disponibilidade e facilidade de armazenamento e manipulação.
Para entender sua aplicação como espessante, é importante que se conheça os seus polímeros:

Amilose

Polissacarídio linear, a amilose tem vários usos na indústria de alimentos, como na produção de filmes transparentes para empacotamento de produtos alimentícios, tais como café instantâneo, sopas, chá e coberturas de salsichas.
Devido à tendência de formar géis, rapidamente, estáveis e dispersíveis em água, a amilose é útil no preparo de pudins e molhos de carne.
Amido de milho com alto conteúdo de amilose é útil como espessante de produtos assados.
Ésteres de amilose podem ser usados como agentes espessantes para produtos alimentícios, aumentando seu ponto de fusão. Eles fazem os alimentos gordurosos, tais como a margarina, pasta de amendoim, chocolates e assados contendo gorduras tornarem-se mais estáveis contra as variações de temperatura.

Amilopectina

Fração altamente ramificada do amido. É usada como espessante, estabilizante e adesivo.

Temperatura de gelatinização

Cada amido apresenta um intervalo de temperatura de geleificação característico, correspondente ao ponto de máxima viscosidade. Este intervalo é medido a partir do início do desaparecimento das zonas cristalinas do grão até o seu fim, visível em microscópio com luz polarizada.

AMIDO
% AMILOSE
INTERVALO DE GELEIFICAÇÃO ºC
Mandioca
10
51-63
Milho
27
62-71
Arroz
18
61-77
Batata
22
56-62
Trigo
24
58-64

Tabela 1 - Teor de amilose e intervalos de gelificação de amidos. Fonte: Fenema.

Para que de fato o amido possa ser usado como espessante, algumas alterações são feitas em sua estrutura:


Amidos Quimicamente Modificados: São produzidos no tratamento do amido com ácidos clorídrico ou sulfúrico, ou ainda com bases de hidróxido de sódio. A partir destas misturas acontece a quebra das moléculas de amido em partes menores chamadas dextrinas. Estas são componentes de caráter inócuo e normais da dieta.

            Amidos com Ligações Cruzadas: São amidos modificados que usam certas substâncias químicas para realizar a interligação das cadeias constituídas como pontes contendo de 500 a 1000 unidades de glicose, proporcionam à solução do amido uma estabilização protetora contra agentes ácidos e também a agitações de grande intensidade.
            A viscosidade adquirida das soluções de amido com ligações cruzadas, possuem muito maior resistência com relação à degradação térmica. Contudo, o mesmo não ocorre com os processos de congelamento e descongelamento pois estes ocasionam a separação de soluções.


            Amidos Derivatizados: São aqueles modificados através da adição de cadeias laterais com carga negativa, tais como acetatos e fosfatos. A união das moléculas de amido é evitada graças às forças de repulsão exercidas pelas cadeias laterais.
            As soluções de amido derivatizado possuem grande viscosidade e limpidez. Sua utilização é voltada especialmente para o espessamento de produtos a serem congelados.
Chiclete "Mento Power"
Ingredientes: amido, goma arábica, entre outros.
Critérios de Escolha de Espessante
               
Esse tipo de aditivo é usado em pequenas proporções (menos que 0,5%), devendo apresentar as seguintes características:
-          ter sabor neutro;
-          ser de fácil dispersão;
-          ser termoestável;
-          conferir mais corpo e maior resistência às variações de temperatura;
-          ter baixa relação custo/benefício.

TOXIDADE
De maneira geral, os espessantes não apresentam toxicidade ao serem ingeridos nos alimentos. No entanto, alguns podem causar efeitos adversos à pessoas específicas, como:
Goma xantana: casos de diarréia
Carragena: é possível causar colite ulcerativa e pode ser carcinogênica em ratos.

Segundo a Legislação brasileira, os aditivos utilizados em bebida não alcoólicas são todos os aprovados. Assim sendo, estão listados os espessantes permitidos pela legislação brasileira para uso em alimentos.

INS
ADITIVO
Principais usos
400
Ácido algínico
Adoçantes de mesa
Leites geleificados e aromatizados
Produtos de frutas
Cereais
Iogurtes
401
Alginato de sódio
402
Alginato de potássio
403
Alginato de amônio
404
Alginato de cálcio
406
Agar
Produtos de frutas, cereais, iogurtes, geléia de mocotó
407
Carragena (inclui os sais de sódio, amônio, potássio e Furcelarana)
Bebida nutricionais, vitaminas geléias de baixas calorias, doce de leite, creme de leite, queijos, sorvete, petit suisse, etc.
407a
Alga Eugema Processada (PES)
410
Goma jataí, alfarroba
Alimentos de transição p/ lactantes e crianças de 1ª infância, creme vegetal, creme de leite, sorvete, leite aromatizado, etc.
412
Goma guar
Alimentos de transição p/ lactantes e crianças de 1ª infância, creme vegetal, iogurte, sorvete, petit suisse, etc.
413
Goma adragante
Adoçantes de mesa líquidos
414
Goma arábica, goma acácia
Adoçantes de mesa líquidos produtos de frutas
415
Goma xantana
Suco de frutas, néctares de frutas, creme de leite, cereais, iogurte, petit suisse, etc.
416
Goma caraia
Adoçante de mesa líquido, Produtos de frutas, leites aromatizados e geleificados
417
Goma Tara

418
Goma gelana

420
Sorbitol e xarope de sorbitol

[425]
Goma Konjac
Bebidas nutricionais, queijos cheddar, prato e cremoso, geléias, produtos de frutas, etc.
440
Pectina, pectina amidada
Alimentos de transição p/ lactantes e crianças de 1ª infância (somente a base de frutas), sorvete, geléia de frutas.
460(i)
Celulose microcristalina
Creme de leite e requeijão, sorvete, adoçante líquido.
460iii
Celulose em pó
461
Metilcelulose

462
Etilcelulose

463
Hidroxipropilcelulose

464
hidroxipropilmetilcelulose

465
Metiletilcelulose

466
Carboximetilcelulose sódica
Leite de coco, queijo cremoso, produtos de frutas, cereais e iogurte, sobremesas, sorvete.
467
etilhidroxietilcelulose

1200
Polidextrose



APLICAÇÕES TECNOLÓGICAS DE ESPESSANTES

Freqüentemente em combinações com emulsificantes, os espessantes tendem a estabilizar diversos produtos alimentícios, entre os quais podem-se citar os seguintes:

a)     Padaria – o alginato e a carboximetilcelulose permitem obter uma massa de estrutura mais esponjosa, suave e uniforme, sem perda da firmeza. Também permitem uma distribuição mais homogênea de substancias aromáticas.
b)     Alimentos açucarados – os espessantes são usados como agentes aglutinantes. O Ágar é o preferido em produtos ácidos, pois geleifica independentemente do conteúdo de açúcar e acidez. O alginato de sódio se agrega a caramelos; a presença de cálcio produz a gelificação.
c)      Produtos cárneos – os espessantes aumentam a viscosidade, prolongando o estado de frescura e, portanto a capacidade de armazenamento. Quando submetidos ao calor à gelatina perde seu poder de gelificação, porém os demais espessantes não apresentam esta sensibilidade ao calor. Em salsichas, por exemplo, a carboximetilcelulose evita a separação de fases e aumenta a firmeza.
d)     Bebidas refrescantes turvas e néctares de frutas – espessantes como os alginatos aumentam o poder de suspensão das partículas de frutas.
e)     Sorvetes de leite e creme – o espessante estabiliza e homogeneiza o sistema complexo de ar, água e gordura que constitui o sorvete, melhorando sua firmeza e evitando a separação de cristais grandes de gelo. Os alginatos produzem uma textura porosa e um bom comportamento a fusão, sem que o sorvete fique pegajoso. Por outro lado, a carboximetilcelulose é um espessante termoestável e por isso gera ao sorvete uma maior resistência às trocas bruscas de temperaturas. No iogurte com frutas, os alginatos, em mistura com a pectina facilitam como espessantes o poder de suspensão. 


VOCABULÁRIO
Hidrocolóides: Em química, colóides (ou sistemas coloidais ou ainda dispersões coloidais) são sistemas nos quais um ou mais componentes apresentam pelo menos uma de suas dimensões dentro do intervalo de 1nm a 1µm.
Imiscível: Que não é miscível ou misturável.
Emulsões: Emulsão é a mistura entre dois líquidos imiscíveis em que um deles (a fase dispersa) encontra-se na forma de finos glóbulos no seio do outro líquido (a fase contínua), formando uma mistura estável.
Suspensão: Estado dos fragmentos de um sólido que, misturados à massa de um líquido, não se dissolvem nele.
Hidrofílica: Hidrofilia, do grego (hydros) "água" e φιλια (filia) "afeição", refere-se a uma propriedade física em que uma molécula tem de, transitoriamente, aglutinar-se a uma molécula de água (H2O) através das ligações de hidrogênio.
Hidrossolúvel: é a característica daquilo que pode ser dissolvido em água. É um material sólido que pode se transformar, através de processos químicos, em um líquido permeável e solúvel como a água, como por exemplo, açucar e sal de cozinha e pó de café.
Filiforme: tão semelhante ou delgado quanto um fio.

Seguidores